Catarina Coutinho


Catarina Coutinho

Professora de Português do Ensino Secundário.


Tema abordado:

- A Pandemia Covid-19.


1. Qual é a sua profissão?

Professora de Português do Ensino Secundário.


2. O que se alterou na sua vida com a pandemia da Covid-19?

A pandemia alterou por completo a minha vida e as relações, tal como creio ter acontecido com todos nós. Houve mudanças profundas no que diz respeito à conciliação e acumulação do trabalho doméstico, teletrabalho, cuidado com os filhos, e sobreposição das vidas profissionais e pessoais, tendo sido muito difícil gerir e lidar com estas mudanças. A saúde mental foi bastante afetada, pelo isolamento e teletrabalho, no meu caso com a realidade do ensino online e com o excesso de trabalho online (reuniões, zoom etc). A perda das relações presenciais e diretas, a perda do "ao vivo", do toque, e das interações com família, colegas e amigos resultaram numa deterioração da saúde mental, de todos nós, alunos e professores. As relações pessoais também foram afetadas, na medida em que passámos por longos períodos de isolamento, seguidos de períodos de desconfinamento, em que não foi possível voltar à "normalidade" de forma rápida e natural, espontânea. Ainda existem muitos medos e hesitações, que modificam a forma como nos relacionamos com os outros. Neste segundo ano de pandemia, ainda não nos habituámos a viver neste "novo normal", uma vez que nos mantemos à espera de que, lentamente, possamos regressar a uma vida mais parecida com a vivida na sociedade pré pandemia.


3. Que efeitos tem tido esta pandemia, na sua vida, em termos laborais?

A pandemia veio alterar por completo a vida de um professor e a vida nas escolas. Vivemos um período de grande isolamento, distante dos alunos e do contacto presencial e físico, o que afetou profundamente a motivação e a saúde mental de alunos e professores. Verificou-se um cansaço tremendo relativamente ao ensino online e às plataformas digitais. Sentimos uma grande desmotivação nos alunos e comunidade escolar. A vida nas escolas alterou-se profundamente; deixou de haver ambiente e cultura de escola de proximidade - encontros e reuniões informais. A escola deixou de ser um centro vivo e dinâmico de contactos sociais e de fortalecimento de laços sociais.


4. Na sua opinião, quais têm sido os efeitos desta pandemia na economia do nosso país?

A realidade da pandemia acarretou dramas sociais imensos, com o desemprego em muitas das áreas económicas mais afetadas (como a restauração, o lazer, o turismo, ou a cultura). Muitos destes dramas sociais são por todos nós observados, sendo evidente o pouco poder de compra de várias faixas da população, em carência profunda, uma vez que o Estado e Catarina Correia Guerra Coutinho as empresas falharam muitas vezes a sua missão de assegurar uma vida digna a todas as pessoas e trabalhadores. Por outro lado, outros houve que não perderam os seus empregos e conseguiram poupar e adquirir mais bens. Esta dupla realidade veio acentuar o que já era um dos maiores dramas no nosso país: as profundas assimetrias sociais e salariais.


5. Que lições podemos retirar desta pandemia?

Uma das mais importantes lições, a meu ver, é o desejado e urgente repensar de todo o nosso modelo económico e social. Todos devemos questionar o modelo de produtividade e lucro, inimigo do ambiente e inimigo da dignidade da pessoa humana, porque individualista, centrado na exploração do trabalhador, e não centrado na melhoria da qualidade de vida das populações. Espero que não percamos a excelente oportunidade de valorizar cada vez mais a solidariedade social, o Estado Social, o Serviço Nacional de Saúde, que "segurou" e tratou dos nossos doentes. Mantenho a esperança de que possamos enquanto sociedade trabalhar juntos contra o egoísmo e o individualismo, apostando mais nos serviços públicos, no fortalecimento das comunidades, no Estado Social e na saúde mental. Uma das lições, relativamente à saúde mental, é precisamente a ideia de que precisamos uns dos outros, e do contacto humano, do toque, dos abraços e dos beijos, e que o isolamento e o confinamento trazem pesadas consequências, ainda que tenham sido necessários. Creio que nestes meses pudemos observar como um povo consegue unir-se em torno de um objetivo comum, seja no confinamento, para a diminuição do número de casos, e consequente alívio do SNS, seja na adesão à vacinação. Houve, de facto, uma demonstração de que o povo português consegue estar à altura do que se lhe pediu e pede, em atos de altruísmo e cidadania. Outras das lições a retirar é, sem dúvida, o reconhecimento da importância da educação e da literacia da população em matéria de ciência, de modo a que consigamos combater de forma cada vez mais eficaz as fake news e a desinformação relativamente à pandemia. Para isso, a escola tem de se afirmar cada vez mais como um lugar de prevenção da desinformação e de combate às notícias falsas.


Entrevista realizada por Ana Matilde Reis
Coordenação/Tutoria: Professora Ana Sofia Pinto



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